2 de jul. de 2012

14º ANO DA MORTE DE DOM JORGE MARSKELL

Carlos Corrêa


D. Jorge Marskell nasceu em Hamilton, cidade da província de Ontário, no Canadá, no dia 08 de Novembro de 1935. Ordenou-se padre no dia 21 de Agosto de 1960 aos 24 anos de idade e dois anos depois veio trabalhar em Itacoatiara, sem saber falar uma palavra em português. Antes, porém, passou um mês em Brasília fazendo um curso intensivo de Língua Portuguesa, onde pouco aprendeu. D. Jorge dizia que aprendeu realmente a falar o nosso idioma com os meninos que brincavam em frente à igreja matriz. Quando os garotos o ouviam dizer algo errado eles riam e o corrigiam imediatamente. Aí davam risadas juntos e os pequenos professores faziam-no pronunciar repetidas vezes as palavras de forma correta. E foi assim, na brincadeira, que D. Jorge, em pouco tempo, aprendeu a falar a Língua Portuguesa fluentemente. Ele se apaixonou por Itacoatiara e pelo povo da cidade. “É um povo muito bom, querido, solidário, e alegre”, dizia ele, acrescentando que foi isso que o prendeu à cidade e não o deixou sair nunca mais.
“Um dia, quando voltei do Canadá, depois do enterro do último irmão que tinha vivo, isso depois de já ter perdido meus pais e uma irmã, disse para um senhor que eu estava sozinho no mundo, não tinha mais família. E ele imediatamente me corrigiu. Num tom muito sério disse: sua família somos nós, D. Jorge”.
D. Jorge incorporou aquela frase à sua vida e desde então tornou-se um filho querido de Itacoatiara. “Meu coração é daqui. Deste povo, desta gente, desta terra. Minhas raízes são estas”. De fato D. Jorge se adaptou ao meio e aos costumes amazonenses. Tornou-se um verdadeiro amazônida. Aprendeu a dormir em rede e só comia peixe com farinha, de gostar do calor e de não dispensar uma sardinha frita.
Foi ordenado bispo em 30 de julho de 1978.
D. Jorge Marskell, como padre e como bispo trabalhou incessantemente em benefício do povo de Itacoatiara, Urucará, Silves, Itapiranga, Urucurituba e Presidente Figueiredo, sempre dando preferência aos mais pobres, aos mais necessitados, aos excluídos da sociedade.
Para dinamizar de forma mais efetiva os trabalhos da prelazia, criou as diversas pastorais e o Centro de Treinamento da Prelazia de Itacoatiara (CENTREPI) onde eram formados líderes comunitários e catequistas que ajudaram a levar o evangelho de Jesus Cristo aos lugares mais distantes.
Em outubro de 1997, após alguns exames, descobriram que D. Jorge estava com Câncer de pâncreas. Há algum tempo ele vinha sentindo dores e cólicas abdominais e acreditava-se que se tratava de uma Hepatite. Descoberto o câncer, D. Jorge viajou ao Canadá para fazer uma cirurgia para a retirada do tumor. Os médicos sugeriram quimioterapia para que ele tivesse mais alguns meses de vida. D. Jorge preferiu voltar para Itacoatiara. Ele foi recepcionado no Aeroporto Eduardo Gomes e no Mosteiro (km 10 Itacoatiara-Manaus) por fiéis e amigos. Ele ficou no mosteiro, mas todos os dias vinha a Itacoatiara para receber os fiéis que buscavam por seus conselhos. Apesar da perda de peso e do cansaço que sentia, D. Jorge mantinha-se tranqüilo e atento às necessidades dos outros. “Ele sempre teve um sorriso bonito, acolhedor, de alegria que mesmo com a doença não se apagou”, falou o padre Ronaldo Macdonell. Durante toda a sua doença o bispo querido do povo esteve lúcido e reconhecia a todos. D. Jorge era um homem de vida, trabalhou em prol do reino de Deus até o último momento. Recebia visitas somente pela manhã, as ordens do médico era que ele não se cansasse muito. Seu estado de saúde cada vez mais se agravava. O arcebispo de Manaus, D. Luís, veio a Itacoatiara visitá-lo. Quinta-feira, dia 02 de julho de 1998 de madrugada D. Jorge entrou em coma, e as enfermeiras que o acompanhavam diariamente, percebendo que sua pressão baixou muito, chamaram os padres e ali, juntos, rezaram. A mensagem dele era: faça uma opção pela vida. Nesse mesmo dia, ele faleceu às 07h22min em sua residência e foi levado para a matriz para ser velado às 10h. Cerca dez mil fiéis compareceram à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Matriz, durante o velório do bispo. Na sexta-feira, durante a realização da missa da ressurreição estiveram também presentes padres de outros municípios do estado, bem como o arcebispo de Manaus, D. Luis soares.
Após a missa, o caixão com o corpo do bispo foi transportado pelo Corpo de Bombeiros com o apoio das polícias Militar e Civil e dos escoteiros, por algumas ruas da cidade. Emoção e tristeza acompanhavam o último adeus dos Itacoatiarenses ao bispo. Às 09h o corpo retornou para a matriz onde foi sepultado.
Os ideais de D. Jorge continuam através dos trabalhos desenvolvidos pela associação Dom Jorge Marskell, sempre solidária com os excluídos.

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